Chuva, chuvisco, chuvarada!
Tem sido assim meus últimos dias: chuva, chuvisco e chuvarada. E tem sido tão bom. Acordar é uma maravilha! Sentir aquele friozinho batendo na pele, arrepio, arrepio de chuvisco. Os gatos encolhidos pelos cantos, o cão murcho e um cafezinho quente a minha espera. Quando ela, a chuva, cai pela manhã antes da aula, a gente torce para que caia uma chuvarada até mais tarde, quando já não dá mais para assistir a expressões numéricas, orações insubordinadas, ligações carbônicas … Nada de gramáticas . Mamãe ainda vinha me convencer, sem sucesso, que minha ida faria bem ao meu acesso à vida, ao mundo do trabalho. E eu cara de doente de frio, afronhava como podia na minha pequena cama. Ah, linda chuvarada.
Vê-la em chuvisco pela janela, é prestigiar uma das artes mais belas do Deus maior, oh, que prazer. E desfazer o dia pela tarde sob o teto protegido com os dengos da vovó trazendo-nos, aos netos, bolos fritos e chá quente, quem resiste a um chuvisco assim?
Quando a chuva passava, isso no tempo que ainda eu ia ao rio, e via além do Parnaíba, suas águas barrentas descendo e descendo e lavando e levando troncos, folhas, lixo, paz e zaz e zens… embora até mesmos restos vidas em noticia frias do jornalista branco das sete, eu visse, ainda assim, eu via beleza. Beleza e medo. No sem medida derrama de tanta água. Baita Chuvarada.
Agora, agora mesmo nesse município, cidade do Próprio, distante de casa, e de amores que me põe de pé e renova minha fé, olho para essa chuva, chuvisco, quase chuvarada e abraço esse dia como milagre de mil lágrimas de um Deus saudoso de um tempo em que o tempo era tudo. Era quase nada no infinito celeste do seu olhar que se perde aflito pelo destino de todos nós.
Codó- Ma 16 de março 2017