BULLIYNG ESCOLAR: culto homenageia alunos mortos por bullying há um ano dentro de escola

Um culto ecumênico homenageou, neste sábado (20), as vítimas do adolescente condenado por matar dois colegas de sala a tiros e ferir outros quatro há um ano, dentro do Colégio Goyases, em Goiânia. Durante o ato, a direção da escola e a estudante Lara Fleury, uma das atingidas pelos tiros, receberam o carinho da comunidade.

“Sentimento de conforto no coração, de vontade de continuar a nossa caminhada, de persistir no amor”, disse a diretora do colégio, Roseli Maria Longa Rizzo, enquanto recebia abraços dos presentes.

A celebração ecumênica foi feita em uma igreja do Jardim Riviera, na capital, mesmo bairro onde o caso ocorreu. O atentado ocorreu no dia 20 de outubro de 2017, por volta das 11h50, na turma do 8º ano do ensino fundamental do Colégio Goyases, no Jardim Riviera, na capital.

Um dos alunos, de 14 anos, sacou uma pistola .40 da mochila e disparou contra a sala, atingindo seis colegas. Quando ele se preparava para recarregar a arma, foi convencido pela coordenadora da unidade a travar o revólver.

Os estudantes João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, ambos de 13 anos, morreram no local. Já outros quatro alunos: Hyago Marques, na época com 13 anos, Isadora de Morais, também com 13, Lara Fleury Borges, 14 e Marcela Macedo, 13, foram baleados, socorridos e levados para hospitais de Goiânia. Isadora, a ferida mais grave, ficou paraplégica e só recebeu alta quase 2 meses depois.

A mãe de Lara, a professora Lia Nunes Fleury compareceu à igreja ao lado da filha, que participou do momento de entrada da celebração. Ela afirma que a data será conhecida na família como o dia em que a estudante ganhou uma nova vida. “É a celebração de um ano de renascimento da Lara”, disse.

Sobreviventes

Um ano depois do dia 20 de outubro de 2017, sobreviventes falam em “trauma eterno”. Hoje, uma delas está paraplégica, outra precisou se mudar para os Estados Unidos, e apenas uma continuou na mesma escola. Todos têm um ponto em comum: estudar para realizar sonhos e aprender a conviver com a dor.

“Todos os dias eu lembro daquela cena horrível, não tem um dia sequer em que eu acordo e não me lembro o que aconteceu. Eu me vejo no chão, caída, deitada, e vejo o atirador andando de um lado para o outro com a arma na mão”, Isadora de Morais, de 14 anos, que ficou paraplégica após um dos disparos ferir a coluna dela.

“Falar sobre isso me ajuda a dividir o peso disto tudo, mas esquecer vai ser impossível. É um trauma eterno”, afirmou.

Os 12 meses se passaram lentos para os quatro adolescentes que foram baleados. Isadora, Marcela, Lara e Hyago não estão mais juntos diariamente, já que estudam em lugares diferentes. No entanto, vivem cotidianamente a dor de terem visto dois amigos, colegas de sala, serem assassinados. Eles afirmam que não se esquecem “um dia sequer” dos momentos de terror e contaram o que estão fazendo para seguir a vida, revelando os seus sonhos: virar médica, publicitária, ser feliz.

Sobreviventes dos tiros dentro de sala de aula do Colégio Goyases, em Goiânia — Foto: Arquivo Pesssoal e TV AnhangueraSobreviventes dos tiros dentro de sala de aula do Colégio Goyases, em Goiânia — Foto: Arquivo Pesssoal e TV Anhanguera

Sobreviventes dos tiros dentro de sala de aula do Colégio Goyases, em Goiânia — Foto: Arquivo Pesssoal e TV Anhanguera

O diretor da escola, Luciano Rizzo, disse que a assessoria jurídica da escola é que iria se posicionar sobre o caso.

O escritório do advogado Eney Curado Brom Filho, responsável pela escola, informou, por meio de nota, que “passado um ano do incidente, o Colégio está, assim como todos os envolvidos no evento, retomando suas atividades e dando continuidade aos seus objetivos, que são educar e contribuir para formação daqueles que fazem parte da família Goyases”. Ainda de acordo com o texto, “a escola se solidariza com todos que sofreram com o ato” e que “sofreu e vem sofrendo com as perdas” decorrentes do incidente.

Segundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, que acompanhou o caso até o fim, o autor dos tiros disse que sofria bullying de um colega e, inspirado em massacres como o de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro, decidiu cometer o crime.

O menor foi apreendido logo após os tiros. Trata-se do filho de um casal de policiais que pegou a arma da mãe em casa e a levou para a escola. Ele foi condenado a 3 anos de internação e, segundo a advogada da família, Rosângela Magalhães, permanece em um Centro de Internação.

“Ele recebeu como sentença a mais grave das medidas socioeducativas, a internação pelo período máximo de 3 anos. Na época da sentença, não recorremos, porque achávamos que não era o momento. Ele corre risco estando internado, corre risco estando em liberdade, é uma situação delicada”.

“Quando a gente achar conveniente vamos entrar com alguma medida, mas, por enquanto, ele continua internado, recebendo visitas semanais da família e está estudando regularmente”, disse a advogada ao G1.

O Tribunal de Justiça de Goiás informou em nota ao G1 que o caso corre em segredo de Justiça e que o órgão não pode se pronunciar ou divulgar informações sobre o caso.

Fonte: G1