Professor José Carlos Aragão deixa o Instituto Histórico e Geográfico de Codó

O professor Doutor José Carlos ARAGÃO da Universidade Federal do Maranhão não faz mais parte do Instituto Histórico e Geográfico de Codó. A decisão foi comunicada por meio das redes sociais na tarde desta sexta-feira (27).

Aragão é um grande intelectual com larga experiência e um dos mais respeitados na UFMA. Ele tem um extenso currículo de pesquisas realizadas no município ao longo de sua vida na universidade.

                              Professor Aragão

Ele disse que não encontrou atualmente no Instituto um ambiente que coadune com seu estatuto e com seus objetivos enquanto instrumento de preservação da Memória e do Patrimônio Histórico, que em Codó tem suas marcas em costas negras.

Confira na íntegra a nota do professor Aragão:

“Sempre acreditei na democracia e no que poderíamos construir em um país democrático que atravessou mais de vinte anos de ditadura civil-militar. Confesso que jamais pensei que retornaríamos aos dias de chumbo, de perseguição, de ignorância, de pobreza e outras mazelas que vivi durante a década de 1980 e 90.
Vejo que, por não termos acertado as contas com o passado, julgando torturadores e criminosos da ditadura, esse passado agora volta a assombrar nosso país, com grave risco de perda da democracia e da tão fragilizada liberdade conquistada com sangue e suor de muitos brasileiros e brasileiras. Confesso, ainda, que sempre acreditei e acredito na educação como uma das ferramentas de superação das desigualdades sociais, da ignorância e do nosso analfabetismo das letras e da política.
Contudo, vejo que, como disse José Murilo de Carvalho a cidadania ainda tem um longo caminho a percorrer. Ou seja, ela ainda precisa superar muitos obstáculos em nosso país, principalmente dentro de instituições que deveriam trabalhar pela defesa da democracia e pela liberdade daqueles que, por mais de quinhentos anos vivem sob o julgo da elite brasileira, e que carecem ainda aprender o que é democracia e liberdade.
Vejo, também, que Hannah Arendt tinha razão ao dizer que democracia só existe entre pares. Isso explica o porque do apoio de alguns desse grupo às ideias fascistas e de extrema direita, as quais são veementemente contrárias e prejudiciais às camadas empobrecidas de nosso país e de nossa cidade, cujo maioria dos negros ainda vivem na miséria e sem acesso às riquezas que produzem no município, mostrando, desse modo, que não há pares e tampouco democracia.
Deixo aqui o meu agradecimento aos membros do IHGCODÓ com quem pude estabelecer um diálogo saudável em prol da democracia, mas informo que a partir de agora me retiro do grupo e do Instituto por não encontrar mais nele um ambiente que coadune com seu estatuto e com seus objetivos enquanto instrumento de preservação da MEMÓRIA e do PATRIMÔNIO HISTÓRICO que em nossa cidade tem suas marcas em costas negras”.